Quando falamos de noite em Portugal, o Algarve é sem dúvida a zona do país que mais rapidamente pensamos. No entanto, a proliferação de clubes, bares e festas a sul e sobretudo durante a época veraneante, está longe de ser sinónimo de qualidade. Pelo contrário, o Algarve tem apostado numa cultura clubbing cada vez mais comercial, sem qualquer identidade ou virtude, procurando o lucro fácil e a satisfação das massas. E apesar deste cenário ter sido sempre mais ou menos o mesmo – basta pensar no antigo T-Club, a discoteca das revistas cor-de-rosa ou a Kadoc,
que apesar de ter por lá passado passado nomes maiores do djing nacional e internacional, sempre foi uma discoteca pop – o desenvolvimento da noite, sobretudo na zona de Albufeira e Vilamoura, é um absoluto inferno de adolescentes e turismo low cost.
Enquanto Lisboa e Porto desenvolviam e sedimentavam uma cultura underground, com espaços, colectivos e festas, o Algarve teve poucos e significativos episódios onde essa cultura pode florescer. A Untitled é um dos poucos projectos a sul, na cidade de Faro (uma cidade onde a própria noite é secundária, por comparação a outras regiões onde é a principal “indústria”), que não só procurou criar uma cena underground, como viu o reconhecimento dessa vontade por parte de um público cada vez maior, fiel e sobretudo conhecedor.
Locais como o Rooftop Eva e o Art Haus Club recebem habitualmente esta festa, criada pelo Figueira e pelo Badoga, dois nomes incontornáveis da cena underground portuguesa. Além da presença regular dos seus mentores, pela Untitled já passaram o que de melhor se faz a nível nacional e internacional, nomes incontornáveis do djing, tais como Solid Funk, Miguel Neto, Cruz ou Kaesar e ainda Raphael Carrau ou Cabanne. A par desta festa, é importante recordar ainda o papel da Cabaret Goes Out, outro projecto de resistência da cultura underground, que leva ao Algarve o que de melhor se faz na música electrónica em Portugal.
É certo que a mudança é lenta e pode parecer pouco expressiva por comparação à restante noite mainstream algarvia; contudo, são projectos como este que criam alternativas, que levam novas linguagem, que formam novos públicos e novas consciências, que não cedem à música e ao dinheiro fácil, porque é pelo amor à música electrónica underground que o fazem. É por isso um prazer receber um showcase da Untitled no nosso abrigo, um gesto não só de admiração pelo percurso destes DJs, mas também de reconhecimento pelo trabalho que têm desenvolvido.