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Tiago

Escrever sobre o Tiago significa mais do que escrever sobre uma das figuras centrais do underground português. Obriga-nos também ao exercício de compreender o que a geração do Tiago significou e significa para a cena eletrônica em Portugal. Demasiado novo para o colocar-mos junto do grupo dos pioneiros, mas Igualmente demasiado velho para que o possamos aproxima-lo da nova geração, DJs tais como o Tiago fazem parte do primeiro corpus de DJs portugueses que pertenciam a algo maior que eles, onde o ding já não era um acto solitário, ou pelo menos só de alguns, mas à primeira possibilidade concreta de uma comunidade, de um movimento (mesmo que inconscientemente naquele momento ou que só possamos compreende-lo retrospectivamente) daquilo a que hoje podemos chamar a cena eletrônica underground portuguesa. Até porque sem esta geração “Intermédia*, os pioneiros teriam continuado de certo modo “atomizados” ou pelo menos sem a força necessária para construir algo além do seu próprio círculo. Fol necessária esta geração dar sangue e talento, serem vários e não só alguns, para que as necessidades surgissem e as respostas a essas necessidades se concretizassem – a criação de mais clubes, bares, coletivos, produtores, lojas de discos, festas… em suma, tudo aquilo que hoje nos permite semanalmente ter uma actividade prolifera, variada e sustentável (um ecossistema que mesmo com as suas inúmeras fragilidades, permite vários DJs trabalharem, criarem, partilharem a cabine com outros DJs nacionais e internacionais, circularem pelo país, procurarem e comprarem discos… e claro, dançarem, algo tão essencial à actividade e conhecimento de um DJ, o saber estar na pista, perceber a construção de um set, ouvir opções e hesitações, entregar-se à música, partilhar reacções, porque um set mais do que para ser ouvido no confinamento de um podcast, é para ser vivido). E não é por acaso que relaciono o Tiago à ideia de comunidade, até porque esta ideia sempre lhe fol cara. Não é só o projecto do Ministerium que o obriga a estar atento, a nutrir cada canto do underground, que o leva a juntar house e techno, trance e tech debaixo de um mesmo tecto, nacional e internacional a dialogarem por uma noite; antes do programador, houve os Pandilla LDT, um grupo de 3 pioneiros na cena minimal portuguesa, 3 DJs e produtores diferentes entre si e que, no entanto. souberam construir, compartilhar e formar uma mesma linguagem. Foi a trabalhar em grupo, em saber partilhar e criar lado a lado que o Tiago compreendeu a importância do companheirismo, da proximidade, do outro e isso reflecte-se em tudo aquilo que ele faz. Sem este gesto, sem esta generosidade, o Tiago não seria a peça central que é, e isto importa reconhecer sem facções ou sem julgarmos que por detrás deste sincero elogio está qualquer tipo de contrapartida – pelo contrário, é necessário reconhecê-lo quer como agente, quer como DJ, no papel sempre vanguardista que ocupou na difusão, promoção e criação da cena underground portuguesa. Até porque, remato este texto, com aquilo que há de mais importa a dizer, enquanto DJ, seja em conjunto, seja cada vez mais a solo, o Tiago demonstra essa sua vasta cultura em cada disco que toca. É tão capaz de tocar um clássico como o tema mais actual que há, ir do house ao deep techno, do minimal ao electro, com a organicidade de quem conhece a música a fundo e de quem não se conforma com o lugar estabelecido. O próprio nome “solitário” de Tiago, não significa um desvincular do passado, mas antes uma renovação do mesmo, quer ser por agora um, mas consciente de que é vário, múltiplo, de todos.