O nosso próximo convidado do Late Breakfast é felizmente uma cara conhecida do circuito underground português. E apesar de viver em Curitiba, não é só a língua que nos une, é acima de tudo a linguagem musical que nos torna tão próximos. Mais do que o português e uma história e cultura em comum, foi a música que estabeleceu esta relação com Portugal e em particular com a Bloop. É curioso pensar, sobretudo em relação ao Brasil, de que há uma língua acima da nossa, que estabelece e sedimenta pontes muito além do entendimento das palavras. A música consegue criar uma outra forma de identidade, de pertença, de ligação e é isso a que assistimos quando vemos o Gromma e o Cruz num cabine. Mas é também um fenómeno que perpassa para a pista, tão palpável e tão visível quando vemos o Gromma tomar conta do 5A, do Harbour, do Ministerium ou mesmo de um festival, tal como o Neopop ou o LISB-ON.
A solo ou acompanhado, a música do Gromma dilui a distância física, faz um oceano inteiro evaporar, apaga a particularidade das expressões e dá lugar à mecânica dos sentidos, ao estímulo corpóreo que nos faz obedecer a um outro vocabulário, a diferentes regras de sintaxe auditiva. E se é certo de que há certas particulares geográficas na música, muitas dessas particularidades são também elas formas individuais e individualizantes de cada DJ. O Gromma é tão brasileiro pela forma quente e ritmada como combina habitualmente house e tech, com progressivo ou trance, como é também um agente musical muito singular ao encontrar esta ponte entre género por vezes menos óbvios de combinar. Basta ouvir os diversos sets disponibilizados no soundcloud do Gromma e percebemos que mesmo entre podcasts gravados com a distância de alguns anos, há permanente e renovada vontade de imprimir uma luz, um tom e um calor ao set. Um tema de electro ou techno mais escuro, é combinado com o tema de italo house ou então um tema de trance ou progressivo, dá lugar a um tema de house ou tech mais melódico e com voz. Mais do que estabelecer uma história a partir de géneros próximos, os sets do Gromma tentam criar momentos, momentos de claro-escuro que imprimem diferentes ritmos e diferentes momentos ao longo do set. É talvez o confronto que há entre o lugar festivo e tropical do DJ-brasileiro e o DJ-internacional e atento ao que se passa lá fora e do qual ele inclusive faz parte. Até porque é co-fundador da label e festa Bioma, em Curitiba, que procura trazer nomes maiores da cena internacional, tal como o DJ Koolt. É por isso, um enorme prazer, receber de novo o Gromma na nossa cabine, desta vez ao lado de um outro verdadeiro companheiro do Harbour e peça vital do underground português, o Hélio e o nosso residente John-E, para uma verdadeira maratona de música.