Acontecimentos como este são importantes, pois demonstram que há uma vida e uma cultura underground electrónica além do eixo Lisboa-Porto. É claro que grande parte daquilo que acontece na cena underground portuguesa ocorre nas duas principais cidades do país, no entanto, são este tipo de projectos os verdadeiros polos de resistência, pois ao criarem festas, ao fomentarem uma cultura de DJs, ao educarem através do vinil,
formam um público que de outro modo estaria isolado ou entregue à música comercial (que é a única cultura rentável possível em praticamente todas as cidades do país – basta uma pesquisa rápida por entre clubes e bares de Portugal, para compreendermos o mapa musical do país, que varia entre as festas de funk e a música electrónica comercial). Tal como a Untitled em Faro, também a Faina em Aveiro, é um projecto que procura levar o que de melhor se faz em termos nacionais e internacionais a um local do país que sem um projecto assim, ver-se-ia praticamente esquecido. Penso que os festivais, tais como o Boom, o Waking Life ou mais recentemente o Basilar ou o Aroma Cósmico, obrigaram-nos a olhar para o país de uma outra forma, descentralizando a cultura underground electrónica do tal eixo Lisboa-Porto. Contudo, os festivais têm um impacto limitado no tempo, mesmo que causem as suas ondas de choque e deixem no ar uma vontade de ali também começar algo novo nos que ali vivem; só projectos como este podem criar uma verdadeira cena underground, ao nutrirem regularmente com festas, clubes, público, DJs e até mesmo alguma pequena loja ou dealer de discos. E claro, não esquecer a importância de clubes como o Art Haus Club em Faro, o Lustre em Braga ou o
Oráculo na Guarda, que há vários anos procuram dar às suas populações música electrónica underground, criando assim, uma cultura absolutamente vital nestes locais onde mais uma vez relembro, estaria ausente ou entregue à música comercial. Até porque, Aveiro é uma cidade com 60 mil habitantes, com uma das universidades mais importantes do país, e é também dos pontos turístico mais atractivos de Portugal e por isso, a existência de um projecto como a Faina, é fundamental. Com 8 anos de existência, a Faina além de contar com a presença regular dos seus – o duo Whitenoise (composto pelo Pedro Gonzaga e o Luís Rocha) e o duo Lazer Mike (Carlos Lázaro e Miguel Oliveira), além do Andy Book, Fragoso, Dave e Dirty Flav – já levou à Ria de Aveiro nomes maiores do djing nacional, tais como Rui Vargas, Jorge Caiado, Kokeshi, Kaeser, Space Riders, Gusta-vo, Pandilla LTD e do djing internacional, tais como Sakro, Dan Ghenacia, Tristan da Cunha ou Lee Burton.
É por isso um prazer, receber um showcase como este no Harbour, que procura não só reconhecer a importância deste colectivo e do seu trabalho, como quer ser palco por uma madrugada em Lisboa daquilo que melhor se faz por Aveiro. Uma noite certamente pontuada por uma cena muito idiossincrática, onde o house, o tech e o minimal ganham uma enorme expressão e são o tronco comum a esta multiplicidade de artistas.