Parece evidente que o techno tomou conta (novamente) do panorama nacional. Tanto a geração mais velha, na qual destacaria o Solid Funk, Zé Salvador, André Cascais, Gusta-vo, Amulador, Conversion, Dexter, Vil, Temudo, Cravo, Nørbak, Tiago, Tauer, Midinoize ou o Tiago Fragateiro; como a geração mais nova, na qual destacaria o nosso mais recente convidado, a par de nomes já incontornáveis como é o caso de Salbany, Lourenço LVGS, Luisa, Maria Callapez, Fresko, Jesterr, Francisca Urbano, Catarina Silva ou Brusca, que levam o techno nas suas mais variadas vertentes às cabines nacionais e internacionais regularmente.
Assim como, além das catedrais do techno, como é o caso do Gare, Lux ou do festival Neopop; outras catedrais têm surgido, como é o caso do festival Basilar, Aroma Cósmico, o colectivo Hayes ou da festa ¼ Escuro (peço perdão de antemão pela omissão de algum nome desta cartografia, mas foi certamente involuntário). Do techno mais rápido, punchy e feroz, ao techno mais mental, escuro e minimal, a cena portuguesa demonstra não só uma imensa vitalidade, como acompanha o que há de mais vanguardista na cena internacional. Durante muitos anos, o síndrome português do isolacionismo (de facto, fomos periféricos durante muitas décadas face a inúmeros fenómenos culturais) e do “lá fora ser melhor” (levando a uma
tentativa meramente mimética daquilo que internacionalmente acontecia), condicionou profundamente a valorização da nossa cena, como secundarizou a importância e a potencial internacionalização dos nossos artistas. Felizmente, ambas as gerações não só ganharam um novo fulgor (com o renascer da cena techno, que depois do período áureo do techno berlinense do DVS1 ou do Marcel Dettman, deu lugar à cena minimal e posteriormente ao tech house), como acima de tudo aprenderam a relacionar-se, a valorizar-se, a comportar-se como um todo, onde DJs com carreiras de 20 anos, partilham a cabine com DJs com carreiras de 2 anos, de igual para igual, sem que a idade seja um posto e inversamente, sem que a novidade seja um
desrespeito pelo legado. Esta vivência, esta vitalidade, faz com que DJs como AlFaer possam não só ser presença regular no Gare, como, mais recentemente, abrir para nomes maiores, como foi o caso de Helena Hauff no Lux. E apesar de AlFaer fazer parte da nova geração, basta ouvir um dos seus sets na Alínea A, para compreendermos a sua enorme solidez técnica e a capacidade inventiva dos seus sets. Ele é capaz de juntar o techno mais deep e melódico, à cena mais dark wave, EBM, pós-industrial, pontuado por vozes sombrias e acordes escuros e envolventes. Assim como, é capaz de cortar essa negritude com apontamentos de electro ou techno mais robótico que viram por completo o tom do set e abrem-no a novos caminhos. É por isso um prazer receber o AlFaer pela primeira vez na nossa cabine do Harbour, ao lado de um já bem conhecido do nosso abrigo, Midinoize.